Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada em novembro na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para apurar recentes incêndios de grande porte convocou nesta sexta-feira personagens envolvidos na tragédia do Ninho do Urubu, o centro de treinamento do Flamengo. Dirigentes da atual gestão e também da anterior foram convocados, mas não compareceram. O clube da Gávea inicialmente informou que enviaria somente representantes, o diretor jurídico Antonio Cesar Dias Panza e o advogado William de Oliveira.
Com isso, o presidente da CPI ordenou o despacho do pedido de condução coercitiva para o presidente rubro-negro, Rodolfo Landim, o vice jurídico do clube, Rodrigo Dunshee, e o ex-vice de patrimônio Alexandre Wrobel. A condução será para sessão seguinte, na próxima sexta-feira. A assessoria do presidente da CPI, Alexandre Knoploch, informou que, antes de valer, o pedido tem de ser protocolado. Na sessão, Knoploch avisou que, se o Dunshee, Landim e Wrobel não estiverem na próxima sessão, ao primeiro minuto serão alvo de condução coercitiva imediata pela Polícia Civil Após o anúncio do pedido de condução coercitiva para dirigentes, o Flamengo informou que o seu CEO, Reinaldo Belotti, estava a caminho da Alerj. Ele chegou ao local às 12h49 – a sessão foi iniciada às 11h. O ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello, que estava em Brasília, é aguardado por volta das 14h.
O incêndio em uma instalação provisória onde dormiam no dia 8 de fevereiro de 2019 jovens da base rubro-negra deixou dez vítimas e iniciou uma discussão pública entre clube, Ministério Público e famílias.
Além de familiares de três das vítimas, foram convocados para a chamada “CPI dos Incêndios” dirigentes da gestão anterior e também da atual. Entre eles o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello e o atual mandatário Rodolfo Landim, e outras figuras relacionadas à gestão do CT (veja lista no fim da reportagem). Mas eles não compareceram. A CPI então pediu a condução coercitiva dos cartolas. Também foram convidados representantes da Defensoria Pública, do CREA, do IML e do Corpo de Bombeiros.
Somente o pai de Pablo Henrique, Wedson Candido de Matos, compareceu, representando as demais famílias. Ela afirmou que o clube “abandonou” os familiares das vítimas da tragédia, garantindo que não houve contato em um ano.
– A gente foi convidado para participar dessa reunião. Até então a gente não sabe o que vai acontecer. Nesse um ano não tivemos contato nenhum com o Flamengo. Total desprezo. O Flamengo nos abandonou. Não procura, não conversa. Desde a tragédia, conversei com o Flamengo uma vez. Mas não falei com dirigente, advogado.
Ao comentar sobre o filho, lembrou que era “cheio de sonhos”:
– O Pablo é um menino carinhoso, inteligente, cheio de sonhos, que infelizmente foi consumido pelo fogo. Era um bom zagueiro, com certeza ia galgar uma carreira. A vida do meu filho não tem preço. Vamos ter que carregar essa dor para o resto da vida.
Ele garantiu não ter raiva da torcida rubro-negra, tampouco do time, mas não poupou a diretoria, que chamou de “omissa”:
– Não tenho raiva da torcida nem do time, mas acho que essa diretoria omissa vai deixar uma mancha muito grande. O time do tamanho do Flamengo não tem carinho de nos ligar?
O pai da vítima da tragédia ainda aproveitou para alfinetar a Justiça:
– Justiça é para rico, para pobre não existe. Se a gente tivesse o peso que o Flamengo tem já teria resolvido.
*Errata: a reportagem inicialmente informou que o nome vice de futebol do Flamengo, Marcos Braz, estaria entre os nomes para condução coercitiva. A informação foi dita durante a sessão pelo presidente da CPI, Alexandre Knoploch. Porém, o pedido foi feito somente para o presidente do clube, Rodolfo Landim, o vice geral e jurídico, Rodrigo Dunshee, e o ex-vice de patrimônio, Alexandre Wrobel.