Abel Ferreira x Tite: como técnicos moldam times vencedores no País

Os técnicos comandam o Palmeiras e Flamengo

Clássico de grande rivalidade nos últimos anos, Flamengo e Palmeiras terão um novo capítulo dessa acirrada disputa nesta quarta-feira, no Maracanã, e mais uma vez em tom decisivo para as pretensões dos times no Brasileirão. Os badalados Abel Ferreira e Tite estão pela primeira vez frente a frente e com motivos de sobras para seus torcedores esbanjarem confiança. Tite estava na seleção e nunca enfrentou Abel em seus três anos de Palmeiras.

Mesmo com somente duas vitórias diante do Flamengo em nove compromissos recentes, o que sugere uma freguesia equivocada no duelo, o comandante alviverde ergueu taças de peso quando superou o time carioca. Seus triunfos vieram nas finais da Libertadores em 2021 (2 a 1 em Montevidéu) e na Supercopa do Brasil no começo do ano (4 a 3 em Brasília, em jogo único). Do mais, são quatro empates e três derrotas.

Os palmeirenses estão confiantes de que a equipe possa dar mais um passo para a remontada sobre o Botafogo na busca do 12° título do Brasileirão por causa dessa curiosa coincidência de Abel diante do Flamengo. Do outro lado, Tite acredita que o time pode melhorar. Ele não fala em título, nunca falou. Desde que assumiu no lugar de Sampaoli, sua meta é uma vaga para a Libertadores. O que parecia ser uma parceria fácil entre treinador e elenco, não se mostrou assim até agora. Ele amargou duas derrotas.

CABEÇA FRIA, CORAÇÃO QUENTE

Abel tira o peso do jogo desta quarta, mas apostará mais uma vez em algo que faz com maestria no comando do time: fortalecer a parte psicológica. Suas palestras antes e até no intervalo vêm transformando resultados. Foi assim, por exemplo, nos 4 a 3 sobre o Botafogo após sair em desvantagem de 3 a 0 para o intervalo. O goleiro Weverton até fez questão de colocar a virada épica no Rio na conta do português.

Abel reconhece o esforço de seu elenco, mas não comenta sobre o título. Ele disse recentemente ter tomado decisões duras no time, como mandar para o banco de reservas Artur e Rony e dar as vagas para Endrick e Breno Lopes. Tite ainda não colocou a mão no vespeiro na Gávea. Mas uma hora terá de fazer isso. Como Abel, Tite também é um treinador motivador, de abraçar seus atletas e protegê-los. Na seleção, no entanto, ele deixou de tomar algumas decisões em relação aos jogadores.

“Vai pesar a questão psicológica, é assim que funciona. Quem já ganhou títulos, por pontos corridos, sabe como funciona. Agora, não sei quem vai ganhar no fim. O Grêmio também está chegando, tem o Bragantino… O Botafogo ainda é o que está em melhores condições, se for ver pelas probabilidades”, adverte Abel Ferreira, ciente de que não pode deixar o Palmeiras empolgar após cinco vitórias seguidas. Faltam seis rodadas para o fim do Brasileirão.

O trabalho que era de motivação para um ressurgimento após a eliminação dolorosa na semifinal da Libertadores, nos pênaltis, diante do Boca, agora é mesclado com a manutenção dos “pés do chão”, sob o lema de “não há nada ganho.” Abel trabalha todas as partidas como finais. Apesar de ser pontos corridos, ele pensa em jogos eliminatórias.

Os jogadores agem da mesma forma, um passo de cada vez. Antes dos 2 a 0 contra o Coritiba, placar que iniciou a arrancada do Palmeiras, os jogadores falavam em “11 finais “. Agora restam seis e o discurso permanece intacto e repetido à exaustão. O técnico entra na mente do elenco e suas palavras viraram mantra. Tem funcionado assim há três temporadas.

CINCO DUELOS SEM PERDER

Os tropeços de Abel contra o Flamengo aconteceram em boa parte na sua chegada ao Brasil. Antes da conquista da Libertadores, quando desencantou no duelo, foram três derrotas e a perda do título da Supercopa do Brasil de 2021 nos pênaltis após 2 a 2 no tempo normal.

O palmeirense “aprendeu” a enfrentar o Flamengo e, mesmo nas igualdades, sua equipe foi melhor. Para dar mais um passo para a nova conquista, terá a volta de seus pilares defensivos, Gustavo Gómez e Murilo, e investirá novamente no esquema com três zagueiros, que garantiu a volta por cima na reta final de temporada. Com defesa sólida, a equipe vem se sobressaindo na frente.

A liberdade para Mayke e Piquerez atacar é outra novidade de Abel, auxiliada pela bola parada de Raphael Veiga. Na frente, Endrick pode ser apontado como candidato a herói do clássico, como foram Deyverson no título da Libertadores e Gabriel Menino na conquista da Supercopa. A dúvida é se o garoto-prodígio estará em campo após ser flagrado com o braço imobilizado após 1 a 0 sobre o Athletico-PR. Abel não vai facilitar para Tite.

FAMÍLIA TITE

Há muita confiança de que Tite una o Flamengo. O treinador se notabilizou por se dar bem diante do oponente desta quarta-feira. No Corinthians, ele ganhou cinco vezes do Palmeiras e ainda somou sete empates, um deles para celebrar o título Brasileiro de 2011 e outro para garantir vaga na final estadual do mesmo ano. Em seu primeiro jogo no clube na segunda passagem, em outubro de 2010, festejou vitória por 1 a 0 no Pacaembu.

O desempenho alto em seus trabalhos anteriores – foram mais de 80% na seleção brasileira e acima de 60% com o Corinthians – também serve para o flamenguista confiar na volta das vitórias seguidas, sem mais os altos e baixos da temporada. Mas isso leva tempo. Tite também estava parado há quase um ano, desde o fim da Copa do Catar.

RESGATE DE ENCOSTADOS

Desde sua chegada à Gávea, ele vem resgatando jogadores que estavam “encostados” com o antecessor Jorge Sampaoli, casos de Everton Cebolinha, atuando com frequência sob sua direção, Luiz Araújo e até Filipe Luís. Pedro se tornou intocável no ataque – ele levou o atacante para a Copa. O treinador vem conversando bastante com o grupo, mas evitando passar pressão desnecessária para eles. Na sexta colocação, com 53 pontos, e um jogo a menos, a meta ainda é a vaga direta para a Libertadores. Mas isso pode mudar na cabeça do treinador.

Mas há quem sonhe ainda com o título e, para isso, se faz necessário ganhar os confrontos diretos contra Palmeiras, segundo colocado, Red Bull Bragantino, em terceiro, e Atlético-MG, em quinto. Com Tite, são três vitórias e duas derrotas, com a equipe saindo na frente no placar em todos os jogos. A ideia é repetir isso diante do forte Palmeiras, mas sem permitir reação.

Sem Bruno Henrique, suspenso, o treinador mais uma vez deve apostar em seus pontas, Everton Cebolinha e Luiz Araújo, para quebrar as linhas defensivas e ajudar o Flamengo a chegar no ataque. Além de ter a meta de servir Pedro, a dupla ainda vem se destacando com gols: foram três em cinco jogos. Pedro é o artilheiro da ainda pequena era Tite no Rio, com três bolas na rede.

O técnico ainda tem outros problemas na escalação, com as suspensões de Thiago Maia e Filipe Luís, além de problema de saúde de Wesley e lesão muscular de Gabigol. Nada que baixe a confiança da equipe. Tite sabe bem usar seus elencos e sempre que pode faz questão de elogiar seus escolhidos.

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