A atuação da ponteira Tifanny Abreu na classificação do Sesi Bauru diante do Sesc RJ, do técnico Bernardinho, reacendeu a discussão a respeito de uma possível vantagem da primeira mulher transgênero a atuar na Superliga feminina. Os números, porém, mostram uma boa jogadora, mas não superior às melhores da competição.
No jogo que rendeu polêmica pela leitura labial de Bernardinho (que disse “Um homem. É f*” e depois teve seu pedido de desculpas aceito pela própria atleta), Tifanny foi a principal jogadora ofensiva, com 27 pontos anotados. Foram quatro a mais que a italiana Valentina Diouf, outro destaque do time paulista.
Mas logo na partida seguinte, pelas quartas de final, contra o Praia Clube, no último fim de semana, Tifanny anotou menos de dois dígitos em pontuação. Foram apenas oito pontos, com baixo percentual de aproveitamento no ataque -ela ainda teve seis erros de recepção.
Ao longo de toda a temporada, a jogadora apresenta números inferiores a 2017-18 -em que o time bauruense não foi tão bem quanto na atual. A média de 22 pontos por jogo, que havia sido uma das melhores da liga, baixou dez pontos. O número de ataques efetuados por ela também foi de 43,5 para 25, além do percentual de efetividade, que caiu para 3 pontos.
Comparada a outras jogadoras de destaque nos últimos dois anos, nenhuma vantagem aparece. Jogadoras como Bruna Honório, do Minas, Destinee Hooker, do Osasco, Nicole Fawcett e Fernanda Garay, do Praia Clube, por exemplo, têm números superiores aos de Tifanny na atual temporada.
Mesmo na temporada passada, em que a jogadora do Bauru teve melhor aproveitamento, seus números não foram melhores do que, por exemplo, os da oposto Tandara, destaque da campanha que levou o Vôlei Nestlé, de Osasco, às semifinais da Superliga. Com um calendário extenso, de 28 partidas disputadas, Tandara teve melhor média de pontos e atacou mais bolas do que Tifanny, que jogou apenas 14 partidas.
A jogadora de 33 anos afirmou em entrevista recente ao UOL Esporte que tem um esgotamento físico mais rápido e uma recuperação mais demorada em comparação às outras jogadoras que atuam na Superliga.
Seu desempenho a cada partida é compatível com isso. Na atual temporada, por exemplo, ela não conseguiu ser decisiva por dois jogos seguidos. Ela alterna bons jogos com partidas em que seu jogo é neutralizado pelas adversárias.
Em um comparativo com sua própria parceira de time, a oposto italiana Diouf, Tifanny também tem médias inferiores -oscilação maior. No último confronto com a equipe do Rio de Janeiro, ambas tiveram desempenho parecido na pontuação e no número de bolas atacadas. Em compensação, a tocantinense teve desempenho abaixo da italiana na segunda partida da série melhor de três, quando o time do Sesc venceu.
Valentina também oscila na temporada atuando como oposto, mas consegue sequências mais regulares na pontuação e no aproveitamento dos ataques. Quando vai mal, pode fazer até três jogos ruins seguidos, mas quando vai bem, consegue manter uma sequência superior. Ela tem em média 2,6 pontos a mais por partida que a brasileira, ataca mais, erra menos e a supera na efetividade por 3,2%, explorando bem sua altura de 2,02 m -9 cm a mais que Tifanny.
A polêmica sobre uma suposta vantagem de Tifanny já foi levada até mesmo à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, onde o deputado Altair Moraes (PRB) apresentou um projeto de lei que estabelece o sexo biológico como único critério para a definição de gênero para atletas em competições esportivas oficiais em território paulista. Enquanto isso, a atleta segue respaldada pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), que permite a participação de mulheres trans que se declarem do gênero feminino desde que tenham nível de testosterona inferior a 10 nmol/L no organismo no período mínimo de 12 meses antes do início de cada competição.