Uma lente de contato inteligente que permite o acompanhamento de sinais vitais e de doenças pode parecer “muito ‘Black Mirror'”, mas está ficando cada vez mais próxima da realidade -pelo menos para o monitoramento do diabetes.
Cientistas sul-coreanos testaram com sucesso a tal lente inteligente em seres vivos, mais especificamente em coelhos. Os resultados foram publicados na tarde desta quarta (24) na revista científica “Science Advances”.
Os sensores dessas lentes tecnológicas analisam a composição das lágrimas e a glicose presente nelas, o que pode ajudar no controle diário e constante do diabetes.
Segundo Renato Ambrósio Jr., membro da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) e que não esteve envolvido no estudo, já faz alguns anos que se sabe da correlação entre a concentração de glicose na lágrima e no sangue –e que isso poderia ser explorado em sensores.
O sistema, minúsculo para não atrapalhar a visão, desliga um LED presente na lente ao detectar níveis de glicose superiores ao considerado normal para indicar a situação irregular.
A temperatura do dispositivo, que, caso se eleve muito e represente perigo para o olho, também foi analisada, mas se manteve estável.
O sistema -que, segundo os próprios autores, é contraintuitivo, já que apaga uma luz para informar que há algo errado- ainda tem muito a evoluir. Poderia, por exemplo, enviar as informações a smartphones para análise por parte de especialistas, de acordo com Alexandre Hohl, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
Hoje, uma das formas tradicionais para monitoramento do diabetes é a partir de picadas no dedo e análise do sangue coletado. Algumas pessoas precisam medir a glicemia até 15 vezes por dia, furando o dedo, diz Hohl.
Um possível lançamento da lente no mercado acompanharia outras tecnologias novas que buscam facilitar a vida dos diabéticos, como um sensor, recentemente lançado, que, colocado no ombro, dura 14 dias e fornece a leitura da glicemia com auxílio de um aparelho.
Além de trazer melhoria na qualidade de vida, dispositivos como esses podem provocar maior aderência dos pacientes ao tratamento e, consequentemente, diminuir possíveis complicações relacionadas ao diabetes.
A única preocupação dos especialistas ouvidos é relacionada aos cuidados com a lente e com a adaptação do paciente a ela. Mesmo sem saber de que material seriam feitas, Ambrósio Jr. aposta que os cuidados com as futuras lentes tecnológicas não serão muito diferentes das precauções atuais.
DIABETES NO MUNDO
Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que o diabetes vem crescendo no mundo. Em 1980, 108 milhões de pessoas tinham a doença, número que em 2014 saltou para 422 milhões. Os países com rendas medianas ou baixas são os que mais sofrem com a condição.
No Brasil, por exemplo, segundo o último Vigitel (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por Inquérito Telefônico) lançado, entre 2006 e 2016 o número de diagnósticos de diabetes subiu quase 62%, o que está ligado à obesidade no país
O diabetes -que basicamente é resultado da falha no controle da insulina, o que afeta a quantidade de açúcar no sangue- pode causar cegueira, ataques cardíacos, infarto, falência renal e amputações.
A doença pode ser evitada ou mantida estável a partir de um bom controle com alimentação saudável, atividade física e medicações.