Acusados de matar prefeito por motivação política vão a júri popular em Rondônia

Principal suspeito de ser o mandante do crime, Katsumi Yuji, primo do atual prefeito de Candeias do Jamari, é suspeito de ser mandante do crime. Júri começa nesta segunda-feira em Porto Velho.

Inicia nesta segunda-feira (5), no 1º Tribunal do Júri de Porto Velho, o julgamento de seis dos sete envolvidos na morte do prefeito Chico Pernanbuco, assassinado a tiros em março de 2017 na cidade de Candeias do Jamari (RO). Segundo a Polícia Civil, o assassinato de Pernanbuco tem motivação política, envolvendo negociações de quase R$ 500 mil.

Katsumi Yuji Ikenohuchi Lema, primo do atual prefeito de Candeias (Luiz Ikenohuchi), é suspeito de ser o mandante do crime. Ele está foragido e não será julgado esta semana porque, segundo o Tribunal de Justiça de Rondônia, recorreu da sentença de pronúncia, que decide se o réu será julgado por um tribunal do júri.

De acordo com o TJ-RO, esse primeiro julgamento será dividido em duas etapas. Desta segunda-feira a quarta-feira (7) serão julgados os réus Talisso Souza de Oliveira, Wellyson da Silva Vieira e Willian Costa Ferreira.

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De quinta-feira (8) até o sábado (10) serão julgados Marcos Ventura Brito, Diego Nagata Conceição e Henrique Ribeiro de Oliveira.

Esse é o segundo caso com maior número de réus do 1° Tribunal do Júri. O primeiro foi em 2013, quando foram julgados os envolvidos no massacre do Urso Branco, de 2004. Na ocasião, foram12 apenados no banco dos réus.

Segundo a polícia, Chico Pernambuco foi executado a tiros devido racha com apoiadores políticos, em Candeias do Jamari (Foto: Marlene Mato/Arquivo pessoal)

Segundo a polícia, Chico Pernambuco foi executado a tiros devido racha com apoiadores políticos, em Candeias do Jamari (Foto: Marlene Mato/Arquivo pessoal)

Francisco Vicente de Souza, conhecido como Chico Pernambuco, de 66 anos, foi assassinado a tiros no dia 18 de março do ano passado, dentro do próprio carro, que estava estacionado em frente a casa onde morava, no Bairro União, em Candeias do Jamari.

Segundo a polícia, o prefeito se preparava para sair, com a namorada e uma criança, quando foi surpreendido pelo assassino. Chico foi morto por dois tiros no peito e um no rosto. A namorada, uma jovem de 21 anos, foi baleada em uma das mãos e na perna direita. A criança que os acompanhava não foi ferida.

De acordo com as investigações, o atirador teve suporte de Wellyson da Silva Vieira, que pilotou a moto que deu fuga ao assassino. Wellysson e os demais envolvidos foram contratados pelo traficante Marcus Ventura Brito, o ‘Marquinhos’, que mediou as negociações entre os executores do crime e Katsumi Ikenohuchi.

O grupo foi contratado por R$ 50 mil, dinheiro que não chegou a ser pago aos envolvidos devido a ação rápida da Polícia Civil, que identificou Katsumi no mesmo dia do crime e prendeu ‘Marquinhos’ seis dias após o assassinato.

Com o traficante, em um sítio na área rural de Porto Velho, policiais civis da delegacia de Candeias apreenderam R$ 4 mil, drogas, o revólver utilizado pelo atirador e 10 balas do mesmo calibre da arma.

Com interceptações telefônicas, a polícia conseguiu chegar aos demais envolvidos que, sem receber o dinheiro, passaram a ameaçar a esposa de “Marquinhos”. A mulher teria ajudado na articulação do grupo, mas não chegou a ser indiciada no homicídio.

Veículo em que o prefeito estava quando foi morto a tiros na noite de 18 de março de 2017 ( (Foto: Toni Francis/G1)

Veículo em que o prefeito estava quando foi morto a tiros na noite de 18 de março de 2017 ( (Foto: Toni Francis/G1)

Segundo consta no inquérito policial, os investigadores tiveram apoio de um denunciante anônimo que, poucas horas após a execução, ligou para um policial e deu o nome de Katsumi Ikenohuchi. A mesma fonte informou o paradeiro do traficante “Marquinhos”, ajudando na prisão do criminoso.

“Marquinhos” teve o nome envolvido no crime depois que um informante da Delegacia de Homicídios ouviu conversas da esposa dele com outra mulher.

“Ela falava de um trabalho que o marido tinha assumido com um engenheiro florestal (Katsumi Ikenohuchi), em que receberia uma grande soma em dinheiro. A mulher estava indignada, porque o marido tinha sumido com o dinheiro, depois de realizar o serviço”, explicou um policial civil.

Como se tratava de um ex-apenado envolvido com o tráfico de drogas, policiais de Candeias procuraram apoio do Departamento de Narcóticos (Denarc), que investigava o traficante e, com escutas, estava gravando todas as conversas telefônicas dele.

“Através dessas escutas, conseguimos confirmar que Katsumi Ikenohuchi era o mandante do crime”, salientou o policial.

Crime

Os preparativos para o assassinato tiveram início dia 7 de março de 2017, quando Chico Pernambuco deliberadamente rompeu laços com financiadores de campanha. Nessa data, houve licitação para a merenda das escolas municipais de Candeias. Uma das empresas que concorreria era de uma financiadora da campanha do então prefeito, mas Chico Pernambuco ameaçou boicotar a participação da empresa, causando um racha entre o prefeito e uma de suas principais apoiadoras.

Katsumi Ikenohuchi ainda tentou reverter o quadro, requerendo a titularidade da Secretaria de Agricultura do Município. Chico Pernambuco rechaçou a proposta e foi ameaçado de morte. Uma pessoa próxima ao prefeito disse à polícia que ele ficou preocupado com as ameaças, mas não chegou a contratar seguranças.

Poucos dias depois, parte do grupo envolvido no assassinato passou a fotografar a casa do prefeito e o carro dele. Os criminosos frequentaram os locais onde Chico Pernambuco costumava ir, estudaram os movimentos do chefe do executivo e, em uma dessas oportunidades, ensaiaram o crime.

Chico estava em um restaurante com dois homens. Os bandidos chegaram próximo do prefeito, mas acabaram desistindo do crime. “Eles acharam que os homens que estavam com Chico eram policiais descaracterizados”, disse um policial civil.

No sábado, quando houve o assassinato, horas antes, o grupo se certificou de que Chico Pernambuco estava em casa e de que não havia nenhuma pessoa próximo que poderia intervir na ação criminosa. Em seguida retornou ao local onde estava o atirador e deu início ao ataque. O atirador ficou postado em frente a casa do prefeito e o segundo envolvido, que estava de moto, ficou em outro ponto, na mesma rua.

Quando o prefeito saiu da casa e entrou no carro, o atirador se aproximou por trás do veículo e surpreendeu Chico Pernambuco, efetuando vários disparos. O revólver utilizado no crime foi guardado pelo atirador.

O piloto da moto, que também estava armado, jogou a arma dele fora. “O Marquinhos pegou a arma do atirador e guardou, achando que e o revólver utilizado no crime seria o que havia sido descartado pelo motoqueiro”, registou a polícia.

Julgamento terá início nesta segunda-feira, 5, no Fórum Criminal, em Porto Velho (Foto: Toni Francis/G1)

Julgamento terá início nesta segunda-feira, 5, no Fórum Criminal, em Porto Velho (Foto: Toni Francis/G1)

Investigação

Dias depois de passar o nome de Katsumi Ikenohuchi à polícia, um denunciante anônimo voltou a alertar os investigadores sobre o intento do traficante “Marquinhos”, que, segundo a denúncia, pegaria os R$ 50 mil, “enganaria” o restante do bando e fugiria para o Pará.

O informante deu conta do paradeiro do criminoso que estava escondido na área rural da capital. Os policiais seguiram para a região e, dois dias depois, prenderam o acusado e apreenderam a arma do crime e parte do dinheiro.

As investigações se seguiram com escutas telefônicas e os demais suspeitos foram identificados e presos.

A polícia concluiu que ‘Marquinhos’ era o elo entre executores e mandante do crime quando ele, antes mesmo de receber defesa jurídica, já sabia que seria defendido por uma famosa banca de advogados criminalistas. “Foi aí que intensificamos a conversa em separado com os demais envolvidos”, explicou um policial civil.

Mais envolvidos

De acordo com a polícia, pelo menos mais duas pessoas são suspeitas de envolvimento no planejamento do assassinato. “Já estamos com o inquérito quase concluído e mais duas pessoas devem ser presas em breve”, afirmou o policial.

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