“Muito querida e amada”, é dessa forma que Elane Galdino vai lembrar da mãe Lindalva, a mulher assassinada e jogada no rio Madeira pelo próprio marido em Porto Velho. O suspeito do crime bárbaro é Gilmar de Sousa Castro, sargento da Polícia Militar, que está preso.
Elane é uma das três filhas de Lindalva Galdino, que tinha 52 anos e trabalhava como doméstica. Em entrevista ao g1, Elane diz que a mãe também era apaixonada por plantas e vivia rodeada de familiares e amigas.
“Minha mãe sempre foi uma mulher muito querida e amada. Uma mulher alegre e carismática. Batalhadora… fazia faxinas diariamente na capital. Essa era a minha mãezinha. Inclusive no dia do ocorrido, uma grande e fiel amiga esteve com ela minutos antes. Foi ela sair da casa e minha mãezinha foi morta”, afirma.
No dia em que a mãe foi dada como desaparecida, no domingo (3), Elane lembra ter notado algo estranho na casa onde a mãe morava com seu padrasto, o sargento Gilmar Castro. Havia muito cheiro de água sanitária e cápsulas de munições deflagradas.
A partir do que viu na casa da mãe, Elane passou a sentir que a mãe pudesse ter sido assassinada e não apenas sumido misteriosamente. Essa suspeita veio porque, segundo ela, a mãe era vítima de violência doméstica.
A filha de Lindalva conta que a bebida alcoólica era o motivo principal das brigas entre a mãe e o esposo, o sargento Castro.
Elane diz que quando a mãe confidenciava sobre as brigas e agressões sofridas, a filha tentava retirá-la do ambiente hostil e pedia para a mãe separar do suspeito.
“Trazia ela pra minha casa, mas no dia seguinte ela pedia pra ir pra casa dela. Queria voltar pra casa dela. Ele não mostrava nenhum tipo de preocupação com minha mãe quando ela estava aqui”, revela a filha.
Esse desinteresse do sargento, segundo Elane, foi um alerta no dia do crime. Ela lembra que no domingo o padrasto ligou informando o desaparecimento de Lindalva. Isso chamou sua atenção.
“Ele nunca me ligou nas vezes em que minha mãe estava na minha casa fugindo das brigas e do nada, naquele dia, ele ficou me ligando. Eu sabia que havia acontecido algo errado”, relembra.
Elane conta que com o desaparecimento da mãe, ligou para uma vizinha, que a alertou sobre ter ouvido três disparos de arma de fogo durante a noite na casa de Lindalva e do marido.
Assustada, Elane recebeu a notícia de que a casa da mãe havia se tornado um local de possível assassinato.
“Eu comecei a chorar mais ainda e pedi para eles: por favor, encontrem o corpo da minha mãezinha”.
Não foi um tiro acidental acidental
No dia do crime, Elane disse ter encontrado três cápsulas de munições deflagradas no quintal da casa da mãe. Ela acredita que não é possível ter sido um tiro acidental.
“A polícia já entrou em contato comigo e disse que eles acharam seis cápsulas de arma. Como pode ter sido acidental? Ele queria matá-la. Os peritos encontraram no terreno ao lado, vários panos com sangue e a sandália dela com sangue,”, conta.
Elane chegou gravar e publicar na rede social um vídeo para pedir justiça pelo assassinato da mãe e chorou bastante:
“O cara matou a minha mãe e ele é policial e eu não quero que saia no papel que foi acidental, porque não foi. Ele tirou a vida da minha mãe. Eu quero justiça”, desabafou Elane, que era enteada de Gilmar.
Arrependimento
Elane conta que uma das irmãs estava brigada com a mãe, pois não concordava com o relacionamento abusivo vivido pela vítima e o agressor.
“Ela [irmã] está muito mal, pois não teve tempo de pedir desculpa pra minha mãe. As duas ficaram chateadas uma da outra por conta dele. Dois meses atrás minha irmã tinha ido na casa de minha mãe e falado um monte de coisas feias pra ele. Minha mãe dizia que amava ele e por conta disso ficou sem falar com minha irmã”, conta.
O sargento Castro, na última segunda-feira (4), confessou o crime e indicou o local no rio Madeira onde havia jogado o corpo de Lindalva.
O boletim da ocorrência foi registrado como feminicídio e ocultação de cadáver. A Delegacia Especializada em Crimes Contra a Vida (DECCV) já assumiu o inquérito e segue com as investigações.