X, de Elon Musk, usa tweets para treinar IAs sem avisar usuários

As publicações, segundo a política de privacidade do Twitter, poderão ser usadas para ajuste fino e treinamento da inteligência artificial -processo no qual se condiciona as respostas do sistema a partir de uma quantidade massiva de dados.

A rede social X, do bilionário Elon Musk, adicionou uma opção, automaticamente aceita e sem aviso prévio, autorizando o uso de tweets para o desenvolvimento da inteligência artificial generativa Grok, que fica integrada à plataforma.

As publicações, segundo a política de privacidade do Twitter, poderão ser usadas para ajuste fino e treinamento da inteligência artificial -processo no qual se condiciona as respostas do sistema a partir de uma quantidade massiva de dados.

O uso de textos, imagens e vídeos de redes sociais para desenvolver grandes modelos de linguagem, como o ChatGPT, está sob contestação na Europa e no Brasil, onde a ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados) expediu uma medida cautelar para impedir a dona do Instagram, Meta, de colocar isso em prática.
A autoridade brasileira investiga possíveis violações da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), como o processamento de informações pessoais de crianças sem os devidos cuidados.

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Questionada sobre o caso do X, a ANPD não se pronunciou até a publicação desta reportagem. A autoridade de dados da Irlanda, onde a rede social fica sediada na Europa, pediu esclarecimentos, em anúncio público.

Procurado via email, o X respondeu que estava ocupado. Na avaliação de advogados consultados pela reportagem, o movimento do X desrespeitou uma primeira avaliação da autoridade brasileira de que o uso de dados pessoais para desenvolver IAs tenha riscos.

Diferentemente da Meta, que avisou em maio que pretendia usar os dados de seus usuários, o X não avisou quando fez a mudança. Uma versão anterior da página do Grok, arquivada na internet, de 27 de junho, indicava que a IA não utilizava dados do usuário até então.

Para justificar a cautelar contra a Meta, a ANPD afirmou que o uso de publicações de redes sociais para treinar modelos de linguagem gera “risco iminente de dano grave e irreparável ou de difícil reparação aos direitos fundamentais dos titulares afetados”.

“Outros processos de fiscalização poderão ser instaurados a fim de averiguar o uso de dados pessoais para fins de treinamento de IA generativa”, disse a autoridade em nota enviada à reportagem após a decisão contra a dona do Instagram. “Para tanto, serão consideradas as peculiaridades de cada contexto, a gravidade e a urgência do caso e fatores como o número de usuários envolvidos, o impacto sobre crianças e adolescentes e sobre o exercício dos direitos dos titulares.”

O diretor do ITS-Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro) Carlos Affonso Souza avalia que a ANPD está preocupada com as plataformas “de grande alcance”, em que um incidente de cibersegurança tenha amplo impacto sobre a sociedade.

Para Souza, é “muito difícil não classificar o X como uma rede social grande alcance”, mesmo que a plataforma tenha menos usuários do que o Facebook e o Instagram. “No lado da qualidade, o antigo Twitter desempenha um papel inegável ao aglutinar o discurso de autoridades, é uma rede muito influente.”

Desde que Elon Musk comprou o Twitter em outubro de 2022, não houve divulgação de dado oficial sobre o número de usuários da rede social. Em balanço sobre o último trimestre de 2021, quando a empresa ainda estava na Bolsa, eram 217 milhões de usuários no mundo, e o Brasil era o quarto país mais ativo na rede.

Na avaliação de Souza, é necessária uma decisão da autoridade para dar clareza ao mercado. “Hoje, empresas de diversos setores não sabem se podem usar dados tornados públicos [como ocorre com redes sociais] para treinar inteligências artificiais. Fica uma situação de perplexidade: parte dos negócios vai correr para fazer isso antes de uma restrição e outra vai ter os negócios interrompidos aguardando uma definição.”

Na quarta-feira (24), Musk anunciou a aquisição de 100 mil unidades de processamento gráfico da Nvidia, para criar um “supercentro” de treinamento de inteligência artificial na cidade de Memphis, nos Estados Unidos.

A primeira versão do Grok, lançada em março, não usava dados da rede social X. Durante live de áudio no X, realizada em junho, Elon Musk disse que sua startup xAI passaria a usar dados do Twitter para treinar IAs generativas.
Assinantes do pacote X Premium+, vendido por R$ 84 mensais, podem ter acesso ao Grok 1.5.

VEJA COMO IMPEDIR QUE MUSK USE SEUS DADOS
O colunista da Folha de S.Paulo Ronaldo Lemos, que alertou os brasileiros na manhã desta sexta-feira (26) sobre a mudança em sua página no X, mostrou o caminho para se opor ao uso de dados da rede social para treinar modelos de linguagem.
Para isso, o usuário precisa:
– Clicar no ícone de reticências (“…”) no canto esquerdo da tela
– Acessar as configurações
-Ir à aba “Privacidade e segurança”
– Depois, a “Grok”, na seção “Compartilhamento e personalização de dados”
– É preciso, então, clicar na caixa de seleção

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