Presa preventivamente na Colônia Penal Feminina de Buíque, no Agreste de Pernambuco, Deolane Bezerra, alvo de uma operação contra lavagem de dinheiro e prática de jogos ilegais, está em uma cela reservada da Colônia Penal Feminina, sem contato com as demais presas que cumprem pena no presídio lotado.
Segundo o Tribunal de Justiça de Pernambuco, a cela especial é uma maneira de resguardar a sua integridade física, diante do caso de repercussão, mas é também uma garantia prevista pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Além de influenciadora digital e empresária, Deolane é advogada cadastrada e em situação regular junto à OAB-SP.
A OAB explica que advogados têm garantia a uma cela especial em caso de prisão, chamada de “sala de Estado Maior”, com instalações e comodidades adequadas, e, em caso de impossibilidade, a prisão deve ser cumprida de forma domiciliar.
“Essa é uma das garantias de que dispõe a classe para o livre exercício da advocacia. Integra um conjunto de regras maior, listado em nosso Estatuto, que prevê outras situações de preservação da profissão”, explica o procurador nacional de Prerrogativas da OAB, Alex Sarkis.
A OAB reforça que essa condição não é um privilégio, mas uma garantia de que não haverá perseguição em eventual investigação apenas por sua atividade profissional.
O presídio em Buíque é dividido em dois pavilhões e está superlotado, de acordo com o Sindicato dos Policiais Penais. São 107 vagas para 264 presas. O g1 Caruaru questionou à secretaria que administra o presídio sobre a superlotação, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
Prisão preventiva mantida pela Justiça
A Justiça de Pernambuco decidiu nesta quarta-feira (11), em audiência de custódia, que a advogada e influenciadora Deolane Bezerra vai seguir presa preventivamente.
Deolane foi levada para presídio no Recife, inicialmente, no último dia 4, e pôde seguir para prisão domiciliar ao ter habeas concedido, mas voltou a ir para a prisão por descumprir determinações judiciais. Ela passou por audiência virtual nesta quarta no presídio de Buíque, no Agreste pernambucano, para onde ela foi levada na terça-feira (10).
O motivo da revogação da prisão domiciliar da influenciadora foi o fato de ela falar com a imprensa na saída da cadeia e, em seguida, postar foto no Instagram em que aparece com uma fita na boca com a inscrição de um “X”.
A mãe de Deolane, Solange Bezerra, também foi presa em 4 de setembro, na mesma operação, a Integration, não teve prisão domiciliar concedida e segue na Colônia Penal Feminina do Recife.
Cronologia do caso Deolane
- Em 4 de setembro, a empresária e influenciadora digital Deolane Bezerra foi presa na Operação Integration, deflagrada contra uma quadrilha suspeita de movimentar cerca de R$ 3 bilhões num esquema de lavagem de dinheiro proveniente de jogos de azar.
- Além de Deolane Bezerra, foram presas mais de 10 pessoas suspeitas de integrar o esquema, incluindo o empresário Darwin Henrique da Silva Filho, dono da casa de apostas Esportes da Sorte, e a esposa dele, Maria Eduarda Filizola.
- Após ser presa, Deolane confirmou que comprou um carro de luxo de Darwin, um Lamborghini Urus S, por R$ 3,85 milhões.
- Segundo a Polícia Civil, os pagamentos à vista pela compra e pela venda de carros de luxo feitas pela empresa e pelo empresário geraram indícios de que houve “lavagem de dinheiro proveniente do jogo do bicho e de apostas esportivas”.
- Ainda de acordo com a polícia, a Justiça decretou o sequestro de bens de vários alvos, incluindo aeronaves e carros de luxo, e o bloqueio de ativos financeiros no valor de R$ 2,1 bilhões. Ao todo, a polícia solicitou que R$ 3 bilhões fossem bloqueados.
- Em julho deste ano, Deolane abriu uma empresa de apostas, ZEROUMBET, com capital de R$ 30 milhões. Segundo a polícia, a empresa foi aberta para lavar dinheiro de jogos ilegais.
- A Justiça determinou o bloqueio de R$ 20 milhões de Deolane e de R$ 14 milhões da empresa dela por lavagem de dinheiro. Na delegacia, a influenciadora afirmou que a renda mensal dela é de R$ 1,5 milhão.
- A suspeita da polícia é a de que a mãe de Deolane, Solange Bezerra, também tenha sido usada no esquema, por isso a Justiça determinou o bloqueio de R$ 3 milhões das contas de Solange.
- Foram cumpridos 24 mandados de busca e apreensão e apreendidos dezenas de imóveis, embarcações, aeronaves, veículos e objetos de luxo;
- Após a prisão, Deolane escreveu uma carta, publicada no Instagram, dizendo que está sofrendo “uma grande injustiça”, que ela e a família são vítimas de preconceito e lamentou a prisão da mãe, além de declarar que a investigação “servirá para provar mais uma vez” que não pratica e nunca praticou crimes.
- Na noite de 9 de setembro, uma nova carta escrita por Deolane foi publicada no Instagram. “Agradeço imensamente o carinho e o apoio de todos, tenham certeza que não irão se arrepender, afirmo com todo o respeito que tenho por vocês, sou inocente e não há uma prova sequer”, disse no trecho final do manuscrito.
- O escritório Adélia Soares Advogados, que representa a empresária e a mãe, se manifestou por meio de nota. No texto, a defesa de Deolane disse que o inquérito tramita em segredo de Justiça e que a influenciadora está à disposição para colaborar com as investigações.
- Também procurada, a Esportes da Sorte informou, também por nota, que “ratifica o compromisso com a verdade, com o jogo responsável e, principalmente, com o cumprimento de todos os seus deveres legais”.