A ação de partidos e de governos para manipular a opinião pública por meio das redes sociais está crescendo e já atingiu 48 países nos últimos 12 meses, diz um novo estudo feito pela Universidade de Oxford, do Reino Unido.
São 20 países a mais do que na versão anterior da pesquisa, divulgada há um ano. O crescimento é impulsionado principalmente por países da América Latina e do sudeste asiático -o Brasil já estava na lista desde 2017.
“As ferramentas e técnicas de manipulação estão constantemente evoluindo e se tornando mais sofisticadas” disse à reportagem Samantha Brown, doutoranda do Instituto da Internet de Oxford e autora do estudo com Philip Howard.
Segundo a pesquisa, esses grupos organizados por atores políticos atuam disseminando fake news (notícias mentirosas), criando perfis falsos para aumentar artificialmente a importância de determinados assuntos e candidatos e usando análise de dados para fazer propaganda a públicos específicos.
Desde 2010, quando os pesquisadores encontraram as primeiras referências a esse tipo de ação estruturada, os 48 países mencionados já gastaram US$ 500 milhões (R$ 1,85 bilhão) para montar suas sentinelas cibernéticas.
Os palcos preferidos de atuação das organizações manipuladoras continuam a ser o Facebook e o Twitter, mas sua presença tem crescido em outras plataformas, como o WhatsApp, o Telegram, o Instagram, o SnapChat, o WeChat e até mesmo o Tinder, aplicativo usado para relacionamentos.
Há também registro de ações organizadas para fazer determinado site ou tema ganhar relevância nos principais mecanismos de buscas da internet, como Google, Bing (da Microsoft) e Yahoo!.
Esses grupos estiveram presentes na maior parte das eleições disputadas no planeta neste período, lista que inclui a Alemanha, a Itália, a Rússia, a Turquia, o México, a Colômbia e o Chile.
E a tendência é que isso se repita na disputa eleitoral brasileira, segundo a pesquisadora. “Campanhas de desinformação vão ocorrer em todas as grandes plataformas utilizadas no Brasil”, afirmou ela.
Mesmo no caso de ditaduras, como em Cuba e na Venezuela, a manipulação também ocorre, aponta o estudo.
“Em democracias, em muitas das eleições que temos visto desde 2016, houve alguns esforços para manipular a opinião pública através das redes sociais”, afirmou ela.
“Em regimes autoritários, a manipulação da mídia social tende a fazer parte de uma estratégia mais ampla de controle social” disse Brown.
Em cada país, os exércitos cibernéticos são organizados de formas diferentes. Em alguns locais a manipulação é feita exclusivamente por pessoas -casos da Hungria, da Colômbia e da Coreia do Norte- enquanto em outros são usados apenas robôs, como ocorreu na Austrália, na Síria e no Camboja.
A maioria, porém, usa uma combinação das duas técnicas. O número de envolvidos também varia, indo de duas dezenas na Coreia do Sul a centenas de milhares na China, assim como o valor gasto por cada país e a organização interna dos grupos.
Levando em conta a capacidade de cada um deles de interferir nas redes sociais, os pesquisadores dividiram os países em quatro categorias, de quem tem mais poder a quem tem menos.
O estudo, feito por meio da análise de notícias e de entrevistas com pesquisadores locais, leva em conta apenas ações internas de tentativas de manipular o debate público. Interferências de um país em outro, como a que o governo russo é acusado de ter feito na eleição americana de 2016, não foram levadas em conta.
Desde a campanha nos EUA, que terminou com a vitória de Donald Trump, diversos países mudaram a legislação para tentar conter o problema. Para Brown, porém, as medidas não têm tido o efeito esperado: “A ação dessas leis é a que produz menos progresso no combate às fake news”.
No Brasil, há projetos na Câmara e no Senado para dar a juízes o poder de tirar material suspeito do ar.
“Cada vez mais, governos usam a legislação para combater as fake news e causam um efeito de restrição à liberdade de expressão.”
Por isso, ela defende que o ideal é que as novas regras tenham como alvo a propaganda de partidos e governos na internet. “Onde vimos mais resultados positivos foi com leis criadas para introduzir mais transparência na campanha política digital”, afirmou.