Mortes na Índia são até 10 vezes superiores ao balanço oficial, diz estudo

Pesquisa estima que nº possa chegar a 4,9 milhões, o que tornaria Covid maior tragédia desde a independência

O número real de mortes provocadas pela Covid-19 na Índia pode ser até 10 vezes superior às mais de 414 mil vítimas registradas no balanço oficial, aponta um estudo de um grupo de pesquisas americano.

Entre 3,4 milhões e 4,9 milhões de pessoas morreram vítimas do vírus no país, do início da pandemia até junho deste ano, segundo o “Center for Global Development” (Centro para o Desenvolvimento Global, em tradução livre).

“As mortes reais provavelmente estão em vários milhões, não em centenas de milhares, o que transformaria esta na maior tragédia humanitária da Índia desde a independência”, afirmaram os pesquisadores. Veja aqui o estudo.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Segundo país mais populoso do mundo, com 1,3 bilhão de habitantes de habitantes, a Índia passou por um colapso sanitário e hospitalar em abril e maio e bateu recordes mundiais de casos e mortes, em meio a uma segunda onda atribuída à variante delta e a falhas do governo.

O governo do primeiro-ministro Narendra Modi se recusou a adotar medidas de restrição, permitiu aglomerações (como festivais religiosos e comícios eleitorais) e chegou a comemorar o “fim da pandemia” em janeiro.

O balanço oficial do país registra 414 mil mortes por Covid-19, o terceiro pior do mundo depois dos EUA (609 mil) e do Brasil (542 mil). Em número de casos confirmados, a Índia tem 31,1 milhões e está atrás apenas dos EUA (34,1 milhões).

Vários estados indianos têm revisado seus balanços nas últimas semanas e adicionaram milhares de óbitos que não haviam sido contabilizados. Parte dos analistas que questionam os números oficiais atribuem os erros mais ao colapso sanitário e de saúde do que a uma manipulação deliberada.

Especialistas atribuem grande parte da subnotificação aos recursos escassos no vasto interior da Índia, que abriga dois terços da população, e às muitas pessoas que morreram em casa sem serem testadas.

‘Excesso de mortalidade’

O estudo do centro de pesquisas americano se baseou na análise do “excesso de mortalidade” (o número de mortes registradas a mais no país em relação ao período pré-pandemia).

Os autores reconhecem que calcular a mortalidade com uma confiabilidade estatística é difícil, mas apontam que todas as estimativas sugerem que o balanço de mortes da pandemia é de uma magnitude muito maior do que a contagem oficial.

“Nós nos concentramos na mortalidade por todas as causas e estimamos o excesso de mortalidade em relação a uma linha de base pré-pandêmica, ajustando para a sazonalidade”, disseram os autores.

O governo indiano não se manifestou sobre o estudo até o momento.

Em junho, o Ministério da Saúde criticou a revista “The Economist”, que afirmou em um artigo que o excesso de mortalidade era entre cinco e sete vezes superior ao balanço oficial, e disse que o texto era “especulativo” e “desinformado”.

Alguns especialistas afirmam que o “excesso de mortes” é a melhor maneira de medir o número real de vítimas da Covid-19. Em maio, um relatório da OMS apontou que o número de óbitos na pandemia pode ser até três vezes maior do que o registrado oficialmente no mundo todo.

Cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde, Soumya Swaminathan compartilhou uma notícia sobre o estudo nesta terça e afirmou que, “é importante capturar o excesso de mortalidade, pois é a única maneira de preparar o sistema de saúde para choques futuros e evitar mais mortes”.

Arrefecimento da pandemia

Atualmente, a Índia passa por uma forte queda no número de casos e mortes por Covid-19 registradas diariamente, com uma média de menos de 40 mil casos confirmados e cerca de 500 mortes por dia.

No pico da segunda onda, a Índia chegou a registrar uma média de 391 mil infectados e 4,2 mil óbitos a cada 24 horas. Nesta terça, foram 30.093 novos casos e 374 mortes, os menores números desde março.

O governo de Narendra Modi também tem criticado por uma campanha de vacinação confusa, que demorou a ganhar tração e muitos dizem ter ajudado a piorar a segunda onda.

A Índia é o segundo país que mais aplicou doses de vacinas contra a Covid-19 (411 milhões), atrás apenas da China (1,47 bilhão), segundo dados do “Our World in Data”, projeto ligado à Universidade de Oxford.

Mas, como tem tem mais de 1,3 bilhão de habitantes, a Índia aplicou menos de 30 doses a cada 100 habitantes, número inferior à média mundial (47). Pouco mais de 23% dos indianos receberam ao menos uma dose e só 6% estão completamente imunizados.