Palestinos invadiram locais onde ajuda humanitária estava sendo distribuída por uma fundação apoiada pelos Estados Unidos e Israel, nesta terça-feira (27), na Faixa de Gaza.
Na cidade de Rafah, no sul do território, que está sob total controle do Exército israelense, milhares de pessoas, incluindo mulheres e crianças, algumas a pé ou em carroças puxadas por burros, aglomeraram-se em frente a um dos locais de distribuição para receber pacotes de comida.
Com as enormes filas que se formaram em busca da ajuda, houve tumulto: imagens compartilhadas nas redes sociais mostraram grandes partes da cerca do centro de distribuição sendo derrubadas enquanto as pessoas se acotovelavam para chegar ao local.
Segundo a agência de notícias Reuters, Israel e a Fundação Humanitária de Gaza disseram, sem fornecer evidências, que o Hamas, o grupo terrorista que governa Gaza , tentou impedir que civis chegassem ao centro de distribuição de ajuda. O Hamas negou a acusação.
“A verdadeira causa do atraso e do colapso no processo de distribuição de ajuda é o caos trágico causado pela má gestão da mesma empresa que opera sob a administração da ocupação israelense nessas zonas de proteção. Isso levou milhares de pessoas famintas, sob a pressão do cerco e da fome, a invadir centros de distribuição e apreender alimentos, durante os quais as forças israelenses abriram fogo”, disse Ismail Al-Thawabta, diretor do escritório de mídia do governo de Gaza administrado pelo Hamas , à Reuters.
O Exército israelense disse que suas tropas dispararam tiros de advertência na área externa do complexo e que o controle foi restabelecido.
Um porta-voz da ONU chamou as imagens do incidente de “de partir o coração”
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Oren Marmorstein, escreveu no X que 8 mil “pacotes de comida” – que incluíam arroz, farinha, feijão em lata, macarrão, azeite, biscoitos e açúcar – foram entregues aos palestinos nesta terça-feira, o primeiro dia do que ele descreveu como uma iniciativa americana.
Quatro postos de ajuda foram estabelecidos no território palestino; dois deles são na área de Rafah e começaram suas operações nesta terça-feira.
A GHF, empresa sediada na Suíça que é a responsável pela distribuição dos alimentos, afirmou que o volume de pessoas buscando ajuda em um dos locais foi tão grande em determinado momento que sua equipe teve que recuar para permitir que as pessoas “recebessem ajuda com segurança e se dissipassem” para evitar baixas.
As operações normais, no entanto, já foram retomadas.
A distribuição de ajuda é feita com procedimentos de triagem biométrica, com tecnologia de reconhecimento facial.
Autoridades israelenses afirmaram que uma das vantagens do novo sistema é a oportunidade de selecionar os beneficiários para excluir qualquer pessoa que tenha ligações com o Hamas.
Grupos humanitários contam que muitos palestinos temem que seus dados caiam nas mãos israelenses para serem usados para rastreá-los e, potencialmente, alvejá-los.
“Por mais que eu queira ir porque estou com fome e meus filhos estão com fome, estou com medo. Estou com muito medo porque disseram que a empresa pertence a Israel e é mercenária, e também porque a resistência (Hamas) disse para não irmos”, disse Abu Ahmed, de 55 anos, pai de sete filhos, em uma mensagem no aplicativo de bate-papo WhatsApp à Reuters.